quarta-feira, 20 de agosto de 2014

CULTURA BRASILEIRA



Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 01 - Vídeo-Aula: 01 – Quem é Brasileira, Cultura?
(Prof. Luiz Costa Pereira Júnior)

Diz o Professor: Descrever o que é uma cultura, não é fácil, notadamente quando tratamos da cultura Brasileira. No vídeo o Professor fala - "Estamos ao lado de duas pinturas brasileiras", representativas da virada do século XIX para o XX, "O Cairipra" e "Abapuru". Falam do homem passivo e do canibal ativo nômade, que ameça nos devorar. São duas faces contraditórias do Brasil. Tratamos da diversidade cultural brasileira, o paraíso cultural. 

O brasileiro é multi-racial, multi-cultural e vive num país desigual. Não conseguimos definir nossa identidade, pois não somos europeus, não somos africanos ou indígenas. Depois de séculos até temos orgulhos dessa mistura, mas somos desiguais. "Gilberto Freire - somos uma junção do branco, do negro e do índio".

O brasileiro se viu obrigado a criar estratégias de sobrevivência, numa sociedade que dá vantagem para quem tem vantagem. A cultura brasileira permitiu a mistura, mas nossa diferença está na capacidade de absorver pensamentos contrários, que aos poucos acaba dando lugar a outras verdades. 

O brasileiro gosta de se adaptar às realidades estrangeiras e ao mesmo tempo cria modelos próprios, que acabam sendo exportados. Incrível como nos atribuímos características que, ao mesmo tempo em que as condenamos, as festejamos. Num momento comemoramos nossa singularidade, o fato de sermos um povo cordial, criativo - noutro vértice, esculhambamos nossa cultura, a pretexto de que o nosso defeito é ser mestiço, preguiçoso, passivo, que gosta de fazer uso privado da coisa pública.

Um enigma - como o Brasil lida com tanta diversidade, sem entrar em guerra? Tolerância e desconfiança caminham lado a lado, pois a mesma pessoa que recebe desconhecidos em sua casa é capaz de estabelecer limites que as separam umas das outras. "A família no Brasil surgiu da escravidão, o seu trauma principal". Os brasileiros buscam a aproximação, como forma de afastar os abismos que os separam do desconhecido, do intransponível, ao mesmo tempo que tratam com cautela aquilo que comprometa, agindo como denunciante ou denunciado, conforme a situação exija. "Aquele que burla no ato de obedecer, que cede no atacado e radicaliza no varejo". 

Nosso modelo se baseia na vontade de se relacionar, na confiança na palavra oral, na crença no divino e no futuro, no molejo, no jogo de cintura. Temos compulsão ao prazer, à diversão, ao deboche, à malandragem e ao revanche social. Só no Brasil faz-se uma festa anual, que desmanchamos constantemente. No carnaval, um local perigoso, torna-se um local "sem perigo". Nós temos alergia visceral ao igual, exceto nestes momentos.



Ninguém no Brasil se reconhece neste modelo, mas assim age constantemente. Há varias carapuças num Brasil tão social e culturalmente tão dividido. A vontade de viver no Brasil é crônica, permanente, notadamente porque o brasileiro se vê injustiçado, que trás ao cidadão a malícia e ao mesmo tempo o abatimento. Muitos sonham relacionar a riqueza da nossa cultura ao que realmente somos. A cultura brasileira privilegia meios termos que separam os próprios brasileiros. O mundo desconfia do Brasil, com medo, ainda que elogiem pelo hedonismo [Wikipédia - O hedonismo (do grego hedonê, "prazer", "vontade" ) é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana], mas contra nossa cultura, O fato é que a humanidade tem algo a aprender com a cultura brasileira.


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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 01 - Vídeo-Aula: 02 – A Língua da Cultura Brasileira:
(Prof. Luiz Costa Pereira Júnior)

"Proferir frases em português é uma das coisas que os brasileiros fazem para encarar os desafios que enfrentam e o ambiente em que se inserem".

Desafios: Sendo não homogêneos, mas híbridos, somos um país mestiço de relações hierarquizadas e desiguais com histórico de injustiças sociais e violência contra povos nativos e africanos.

A língua portuguesa no Brasil é resultado contatos dinâmicos e desiguais. Somos resultados da experiência coletiva da memória que materializou antes de nascermos e dos passos que cada um de nós dá em particular.

Essa experiência deixa marcas na linguagem e são essas marcas que essa aula esperar identificar para vocês.

“Todo brasileiro trás na alma e no corpo a sombra do indígena e do negro – Gilberto Freire – Casa Grande e Senzala.” Esse livro revolucionou os estudos sociais no Brasil.

A formação da família brasileira, nascida da sociedade patriarcal e escravocrata dos    engenhos. O encontro das três raças: o branco, o índio e o negro.

No século XX, Casa Grande e Senzala foi apresentada como uma auto biografia coletiva. Houve quem dissesse que o texto era indecente e de método questionável, porque não baseado em métodos qualitativos e porque era literário demais, sem arremates e sem conclusão nenhuma. Gilberto Freire observou sobre a sociedade brasileira que a linguagem nem se entregou ás senzalas e nem ficou ilhada nas casas grandes e colégios de padres.


Em seus primeiros séculos, a língua dominante no Brasil não era o português, mas uma variação do tupi usada pelos portugueses no cotidiano para facilitar a comunicação e o controle dos nativos.

Essa mudou com o Marquês de Pombal m 1759, quando uma lei expulsou os Jesuítas da metrópole e das colônias, surgindo a reforma pombalina.

Muita gente usa a linguagem ao modo português (rude – imperativo: diga-me, faça-me), notadamente quando está irritado. “Ponha-se daqui para fora.”

Gilberto Freire reforça que o português europeu sofreu diversas influências que mudaram a mentalidade por trás do idioma. Uma das mais importantes foi a influência africana, onde a docilidade era uma obrigação.

A tese de Freire é de que não houve tomada de consciência, nem reação por parte de quem foi oprimido, mas uma movimentação doméstica que permitiu infiltrar valores não portugueses no terreno privado, tudo isso diluído em mensagens e absorvidos involuntariamente pelos “inhô-inhôs e sinhazinhas” em fonemas pronunciados pelas amas, quase como cantigas de ninar.

Se a aposta de Freire estiver certa, dos contatos e dos confrontos entre as linguagens emergiu um idioma que deixou de ser europeu e resultou da influência e das várias tendências umas sobre as outras.

Mas o vernáculo de elite não vinga numa sociedade sem tradição escolar. A cultura brasileira pode ter percebido muito cedo aquilo que linguistas começaram a chamar atenção só no século XX. A compreensão mútua vai depender não só do conhecimento de uma língua partilhada por todo mundo, pois há diferentes repertórios de saberes, distintas necessidades de negociação de sentido. Desde o século XIIX, quando o Marquês de Pombal tornou o idioma português obrigatório do norte ao sul do Brasil, a gramática passou a ser usada como barreira entre classes sociais para deixar cada um no seu lugar. O idioma chegou ao século XX como indicador de distinção social. O neologismo que conquista multidões, a concordância antes impensável, o palavrão usado em contexto de carinho, estrutura de frase que desconcerta; tudo por ser sinal de uma abertura, inovação na vida pela necessidade pragmática de entender e ouvir, de falar e ser entendido. É nesse sentido que se fala da expressão brasileira em língua portuguesa.

Exercitada numa sociedade desigual e híbrida a expressão brasileira em português se revelou porosas formas neutras. A construção de linguagens que permitam evasão ou sonho ambíguo ou a gentileza que aproxima, porque quando emitimos raciocínios desse jeito, facilitamos a interação com quem é diferente da gente, evitamos vínculos com algumas situações comprometedoras e compensamos a ameaça à imagem que imaginamos cultivar em outros. Por causa dessas características existem algumas marcas brasileiras na linguagem, que raramente são usadas em outros países de fala oficial Portuguesa.

A conversa desigual assimétrica pode ter tido ao longo da história do Brasil implicação na forma como os brasileiros se tratam. Em particular, numa linguagem que não se aventura ferir brios, a ponto do idioma interiorizar uma série de fórmulas sintáticas como fins pragmáticos; construções evasivas e indeterminadas ou de subterfúgios que ajudam a equilibrar o jogo no contato cotidiano e a não comprometer o falante mais que o necessário. Há, por exemplo, recursos de linguagem utilizados no Brasil que são úteis para reduzir as distâncias formais entre pessoas desconhecidas. Talvez até simular proximidade com chefes não condescendentes, para superar os obstáculos dos primeiros contatos e estabelecer graus de intimidade, mesmo que superficiais, que atenuem as pressões impostas pelos diálogos em situações de desigualdade de mando.

Pois é, aquela coisa, não somos íntimos o suficiente, mas não nos incomoda a distância que nos separa e não nos interessa receber pito de quem está cima de nós. Então a gente desmantela o abismo da hierarquia das relações humanas com formas de linguagem que ora nos preservam ou que ora redefinem os espaços entre as pessoas. Você já percebeu que o brasileiro consegue ter maior precisão comunicativa, quanto maior é sua neutralidade. O que podemos chamar aqui de neutro é o plano a parte em que se desconsideram as diferenças e não interessa as indeterminações em que os contextos subentendidos são muito claros. Em “CADA UM NA SUA”, por exemplo não é garantido que a pessoa entenda que está se falando de que “CADA UM NA SUA INTIMIDADE, PERSPECTIVA” ou qualquer outro complemento – é portanto neutro. Isso também ocorre com as outras frases que os brasileiros estão muito familiarizados: “APRONTOU TODAS” omite muito mais que a família de palavras ligadas a “APRONTOU TODAS AS CONFUSÕES”; “SE ACHANDO” dispensa o entendimento de um complemento como “SE ACHANDO MAIS DO QUE UMA PESSOA COMUM”, numa síntese quase associada à arrogância.

“É DOSE” carrega a imagem da última gota que transborda no copo. É uma metonímia; tudo indeterminado numa sentença brasileira como: “POR ESSAS E POR OUTRAS, EU, NA MAIOR, DIGO QUE FAZ PARTE”.

Por essas e por outras o quê? Na maior o quê? O que faz parte? Faz parte de quê?

Ao transformar em advérbio uma locução substantiva, “NA MAIOR” ganhou autonomia de sentido e grau máximo de indeterminação. “NUMA BOA” tem aplicação mais ampla e maleável do que dizer “NUMA BOA SITUAÇÃO”. Ao transformar o substantivo em locução, “NA MORAL” a expressão se distancia do sentido do termo de origem, para se formar ele mesmo sinônimo de “NUMA BOA”.

A indeterminação na linguagem une o gosto pelo indefinido, pelo genérico, com hábito de ficar em cima do muro para não se comprometer. Ninguém sabe o dia de manhã, vai que o inimigo ficou por cima. De tanto apelar para a indeterminação fixamos na linguagem brasileira vários indicadores de indeterminação de espaço e de tempo.

Veja as expressões: “É PERTINHO”, “BEM ALI” – elas são referências de distâncias que não necessariamente são compartilhadas por quem diz e quem escuta. A mesma coisa acontece com a indeterminação de tempo. “NA HORA” indica a ação de urgência máxima, sinaliza rapidez, profissionalismo, eficiência. Como em “PASTÉIS FRITOS NA HORA”, a ponto da expressão “NA HORA” virar sinônimo de excelência. “UM MINUTINHO” e “UM INSTANTINHO” pode ser aviso de que algo pode demorar horas e “LOGO MAIS” pode nem se concretizar.

Há no Brasil uma espécie de tradição popular de subversão reverente impressa na linguagem; defesas no plano da interação, uma dia possivelmente criadas para quem obedece, ante às imposições verbais de quem manda, mas que hoje são aplicadas mesmo em situações de comunicação de que não está mais em jogo uma relação hierárquica. Quando há distância formal entre os interlocutores e um deles quer reduzir esta distância, estas fórmulas se instalam.

A expressão verbal brasileira tem apego a formas não comprometedoras, mas que não parecem uma indireta ou então não façam a pessoa assumir uma ligação que no futuro pode afetar a sua imagem.

Há uma consciência de que as interações no Brasil tem um equilíbrio desigual e antes que me acuse, eu antecipo a esquiva e assim equilibro novamente a comunicação.

Entre uma possibilidade e outras, os brasileiros criam muito da linguagem que os preserva e define. Muitas vezes usamos formas no gerúndio para encobrir o sujeito que enuncia. Ele apaga a sua pessoa e não se compromete quando diz: “VOU ESTAR PASSANDO O RECADO”. Ela possivelmente é o intermediário e não sabe as consequências de dar o recado e não quer ao mesmo tempo ser grosseira, então ela procura uma expressão que pareça educada e não comprometedora. Tempos depois se procurada pela mesma pessoa poderá muito bem dizer: “MAS EU NÃO FALEI PARA O SENHOR QUE VOU ESTAR PASSANDO O RECADO?” Então algo que era para ser garantido prontamente é jogado num tempo de incertezas. É um problema ético, não um desvio de linguagem.

Por necessidade a cultura brasileira criou práticas discursivas úteis à movimentação humana em uma sociedade híbrida. Essas práticas são nossas marcas coletivas. Quem sabe entoamos a língua menos como correspondência ao mundo, ao eu e um compromisso à tradição, a norma, ao passado, do que um caminho ao outro, contra o outro; que precisa ser continuamente corrigido para incorporar as pistas comunicativas dos outros interlocutores. Talvez por isso tenhamos pouco complexo para encarar os jogos de linguagem como eles tantas vezes se apresentam. Um exercício de aproximação e contato, não compromisso radical com o passado, na certeza de que ao falar, o brasileiro expressa sua identidade que não uniforme e o Brasil respira sua diversidade que insiste nos unir.


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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 02 - Vídeo-Aula: 03 – Identidade e Modernidade:
(Prof. Luiz Costa Pereira Júnior)


O Brasil surge para o mundo na era moderna, num tempo em que o Mundo Ocidental começava ser afetado por valores renascentistas. Os ingredientes tradicionais da tradição greco-romana, mesmo a judaico-cristã não foram combinadas com ingredientes de outras culturas: ibéricas, africanas, indígenas, judaicas, islâmicas, muitas vezes especificamente lusitanas, além das italianas, etc.

Podemos dizer muita coisa da nossa cultura, mas não que seja plana como um tapete.

As manifestações culturais ao longo da nossa história, oscilam entre uma sociedade que olhada a modernidade com desejo, ao mesmo tempo em que desconfiava dela com todas as suas forças.

A modernidade costuma ser vista no Brasil como um alien. Ela é historicamente associada pelos brasileiros a modelos que a gente não fabrica e vem de fora para ocupar nossa vida. Somos ciclo-tímicos – a depender da época e do olhar, a importação cultural pode tanto ser comemorada, como considerada uma ameaça às tradições locais.

As iniciativas culturais brasileiras parecem oscilar entre essas duas reações, como se tivesse um transtorno bipolar.

Há fases em que a cultura brasileira é desprezada, porque o patamar a atingir está em outro canto. No modelo  da cultura aristocrática europeia e, mais recentemente da indústria cultural norte-americana.

Em outros ciclos dos brasileiros, por exemplo, parecem redescobrir o país passando a exaltar símbolos da nacionalidade e dos prazeres comuns.

O primeiro movimento cultural a romper essa gangorra foi a Semana de Arte Moderna de 22. Os modernistas fizeram o país entrar em sintonia com movimentos artísticos e culturais que pipocaram no exterior no início do século XX e fizeram isto buscando dar valor a tudo que mostrasse a identidade brasileira mais autêntica.

Eles fazem a crítica ao mofo cultural, enquanto investiam pesado na discussão do que seria uma cultura nacional. Mário de Andrade chegou a dizer que nós só seriamos civilizados em relação às outras civilizações, quando criássemos a orientação brasileira. Nessa hora a gente deixaria de macaquear a cultura dos outros, para estimular a nossa própria criação nacional, que nos levaria à universal.

Ricardo Garotto de Moraes” – Sinceridade para o artista – não é dizer tudo o que pensa. Para Mário de Andrade e Buarque de Holanda – é a técnica de orientar-se pelo mercado, se apropriando dos textos brasileiros e estrangeiros, sem necessariamente copiá-los, captando e criando sua própria identidade, o trabalho do próprio artista.

Osvaldo de Andrade lançou o manifesto antropofágico em 1928. É dele a ideia de que deveríamos agir como o canibal que só devora o melhor guerreiro da tribo rival.

Nós fazemos uma salada geral daquilo que vem de fora. Mastigamos o que ele tem de melhor e tiramos dele a força vital que nos ajuda a fazer coisas que só nós faríamos. Não é por acaso que o manifesto antropofágico data aquele 1928 como o ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha, cuja lenda é que tenha sido comido pelos caetés de Alagoas em 1554.

Ousado, o movimento artístico que emergiu da Semana de Arte Moderna adotava as convenções em vários campos diferentes da cultura e era tão mais radical quanto a força da tradição cultural que combatia.


Antonio Cândido” – escritor, crítico literário e sociólogo. Estereótipos: Cariocas – carnaval, samba, não eram sérios; Paulistas – trabalhadores, sérios. Semana de Arte Moderna aconteceu em São Paulo – um paradoxo, já que os artistas eram desorganizados. O modernismo no Rio era comportado. Paradoxo. Mas porque – no Rio a cultura era solida, enquanto em São Paulo, não havia nada.

Para um bom pedaço da primeira metade do século XX uma das mais fortes ideologias sobre o caráter nacional ofereceu resistência à pratica modernista.

Na época da república velha entre 1889 a 1930, a mentalidade dominante continuou cética com chance de um dia esse país virar uma civilização avançada. Tudo porque a raça e o clima tem provocado uma combinação nociva, criando uma patuleia preguiçosa, mal criada, ignorante, passiva e acima de tudo, dolorosamente mestiça. Essa visão estimulou não apenas o desejo de empalhamento da população por imigrantes europeus, como está na base de uma série de componentes racistas que moldam a cultura brasileira.

A reação a este modo de pensar reforçou nos anos 30 com a ideia de democracia racial, cunhada pela geração de Gilberto Freire. Para essa nova ideologia antropológica, a mestiçagem não e razão para o atraso civilizatório, mas um avanço em relação a outros povos.

Muito lentamente a ideia de uma mentalidade que tome a cultura mestiça em decomposição com bons olhos, começa a ganhar terreno no país a ponto de hoje fazer parte do senso comum brasileiro.

Álvaro Comin” – USP – Faculdade de Filosofia. “ Num período de duas Guerras Mundiais e Resseção o país importava tudo.

A agressiva industrialização promovida desde a era Vargas transformou a economia que até então tinha vocação exclusivamente agrária, com núcleos de poder regionais fortes, mas pouco articulados para definição de estratégias de ação nacional.

A partir dos anos 30 o Brasil começa a impor um Estado centralizado e aos poucos a balança do poder migra, tornando-se mais nacional e centralizado do que regional.

A cultura brasileira sente a necessidade de rever o próprio país. O nacionalismo se impõe; o Estado vira locomotiva da economia, mas estamos longe de encarar relações sociais, sem que as demandas privadas definam a esfera pública.

O Estado chama para si o desafio de dar um norte para a identidade nacional e estimula o sentimento de que a pessoa pertence a um lugar continental, de natureza exuberante e de caráter único, chamado Brasil.

Nesse contexto, a ideia de mistura racial começa a ficar muito conectada a pratica do sincretismo cultural, o legado escravo que tinha de manter sua cultura e religião disfarçada debaixo de camadas de representações da Casa Grande.

Um tempo em que a novidade brasileira passa ser identificada como a habilidade e a rapidez de interpretação e absorção dos contrários.

Após a 2ª Guerra o Brasil se moderniza. A urbanização intensa, desde os anos 50 colocou em proximidade física as diferentes camadas da população, que até então estavam hierarquizadas e separadas num espaço amplo Brasil afora.

O sujeito ignorante e analfabeto morava na roça. O bacharel na Capital. Agora que o pessoal da roça veio à Capital e entrou em contato, suas concepções de mundo começam a entrar em choque com uma velocidade muito maior do que antes. Na evolução desse processo, o país fica mais afeito às formas mistas, a confluência de mentalidades e a diversidade de gostos culturais.

Com ciclos de abertura política interrompidos por ditaduras, o país convive com orientações nacionalistas nos debates culturais em períodos de relativa paz democrática.

Entre 1946 e 1964 é grande a busca pela definição de uma identidade cultural de caráter nacionalista. E isso se espalha a diferentes movimentos sociais à esquerda e à direita do aspecto político.

Com a repressão e a censura da ditadura militar de 64 o panorama muda. Nos grandes centros urbanos vem crescer as acusações contra uma cultura alienada, reflexo da dependência brasileira dos grandes impérios capitalistas do planeta.

Explodem manifestações culturais como tropicalismo e os Festivais de MPB. Em momentos negros todo gato é pardo. A ditadura impõe repressão e censura, uma aguda centralização administrativa com dependência maior do Estado por parte da iniciativa privada e redução de importações. Em contra partida, impõe também a integração do mercado nacional como a comunicação para massa.

Só interessava para ditadura que o país tivesse uma imagem integrada de norte a sul. Daí colocasse uma espécie de motor para a cultura, criando instituições para desenvolver e coordenar as artes e bancando projetos de integração nacional por meio do rádio e TV.

A abertura política de 1985 foi um gatilho de manifestações e identidade culturais reprimidas pelo período ditatorial. Surgem novos protagonistas e novas demandas culturais, com elas emanam nova necessidade de redescobrir o Brasil, que chega aos dias de hoje.

A sociedade brasileira do século XXI já colecionava grandes conquistas. O país se tornou uma economia emergente com diminuição da pobreza, instituições democráticas mais fortes, avanços na tecnologia e na comunicação e principalmente a consciência de que é preciso mais direitos, menos uso da coisa pública, mais oportunidades de diversidade cultural, além de melhor qualidade nos serviços públicos, que incluem educação e apoio à cultura.

Agora importamos músicas, filmes, literatura de autoajuda, cultos religiosos e programas de TV. Viramos um polpudo mercado de consumo para shows internacionais, cinema global e redes sociais, mas vivemos um processo de questionamentos até da própria noção de mestiçagem e democracia racional, da efervescência on-line, confluência dos contatos sociais, da interpenetração de culturas, a força da palavra oral e de se suspeitar se estamos em meio a mais um ciclo de revisões sobre a nossa identidade e a nossa cultura.

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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 02 - Vídeo-Aula: 04 – A Tradição e a Cultura Popular e de Elite:
(Prof. Luiz Costa Pereira Júnior)

O Brasil tem um número grande e diversificado de tradições culturais. As festas populares, a culinária, o artesanato, o folclore e a oralidade criativa da população ajudaram a imprimir uma identidade multicultural no país.

Parece que sempre que pensamos em tradição, nós o fazemos muitas vezes com enfado, como se estivéssemos diante de algo de interesse só das gerações passadas que viveram no meio rural, uma peça de museu que não nos diz respeito. A aula de hoje vai abordar a ideia de que ao falar de tradições culturais, estamos na verdade falando dos limites entre o sujeito e o legado que ele recebe e isso pode ter mais consequências na cidade atual do que se imagina.


                                 Vídeo: “Paulinho da Viola” – Documentário "Meu Tempo é Hoje"
        Fala da saudade brasileira.


Paulinho da Viola é um mestre do samba e autor de chorinhos memoráveis. Sua música sugere que se fala como o marinheiro que tem a sabedoria de tocar o barco devagar no nevoeiro, mas reconhece que não controla o próprio rumo, pois quem navega é o mar.

Ele é o sujeito que, sendo expressão máxima de uma tradição do samba, afirma que o seu tempo é o hoje e não tem mania do passado e não sente saudade de nada, pois voltar é quase sempre partir para outro lugar. Não adianta voltar ao que foi.

Paulinho da Viola nega a ideia de uma pureza musical da qual seria portador, não sente nostalgia de um tempo perdido, porque tudo já estaria em nós. Se um personagem, uma tradição, uma história passar a ser parte da gente, não há como sentir falta dela. O que nós sentimos agora, já estava dentro da gente. Somos o que está para acontecer e aquilo que foi e somos agora. Tudo o que vivenciamos esta de algum modo vivo e se manifesta sem que a gente nem perceba.

A grande lição que artistas como ele traz é mostrar as conduta possíveis ante a cultura e não podemos ser mera repetição do passado, tampouco podemos esquecer aquilo que foi. O passado se internaliza na experiência atual. Podemos congelar uma cultura ou superá-la, tomando a rédea desse passado, ao mesmo tempo em que o levamos a outro patamar, valorizando-o. Sendo incapaz de esquecer totalmente, tampouco somo capazes de reproduzir totalmente a manifestação original sem atualizá-la. Caso a gente fizesse isso, a tradição que nós representamos estaria morta.

As manifestações tidas como folclóricas e tradicionais são vistas como remanescentes de uma sabedoria que muitos acreditam que precisa ser resgatada para ser vivida. Mas a cultura popular é absolutamente dinâmica. O interesse por um frevo, por exemplo, não precisa ser o de quem quer colocar o passista em formol ou em museu, nem o de quem quer se tornar passista propriamente. O passista é uma figura localizada no tempo e no local. Não há como trazer um deles de Recife a Curitiba, por exemplo, para dançar frevo e sua apresentação não ser vista como artificial, porque lhe falta o entorno, o povo interagindo na rua, as bandas tocando e o intenso sol de fevereiro.

Toda tradição cultural popular age como um núcleo simbólico, que expressa tipos de sentimentos, convício social e perspectiva que mesmo quando relidos ou manipulados, remetem à memória longa. Haveria uma mentalidade expressa em objetos ou formas estéticas que traduzem o ideal de relações intensas de espírito comunitário, anteriores ao individualismo contemporâneo. Essas relações talvez nem existam mais no estado puro, mas continuam existindo como ideia.

Faz cada vez menos sentido identificar culturas populares pela destruição de objetos culturais num dado grupo social. Primeiro porque a tradição folclórica e a cultura de elite estão em situação muito parecidas hoje. É tão difícil encontrar uma manifestação preservada em estado puro, quanto referências culturais de prestígio, de fato assimiladas por todos na elite cultural brasileira. Num ambiente cultural em que as referências se misturam seria anacrônico congelar a cultura numa cultura popular, se todo mundo vê novela, por exemplo.

Muito do que se considera lixo na indústria cultural brasileira é financiado por anunciantes que buscam o consumidor de elite, que no Brasil consome muitos produtos culturais de massa, tanto quanto o povão, com gostos culturais muitas vezes parecidos. Mas é possível lidar com nossa tradição cultural de origem popular, de outra maneira.

As manifestações culturais regionais mostram que nem sempre a cultura iletrada é uma cultura de ignorantes. O analfabeto não é necessariamente um homem deseducado, e muitos tem compreensão de vida e atitudes humanistas, muitas vezes superiores ao de uma pessoa letrada. Nem por isso vamos sair por ai dizendo que a cultura letrada é insignificante a esses homens. Se eles tiveram acesso a outras informações culturais, certamente se sentirão melhor e é saudável ter uma atitude ativa de compreender e acolher essas tradições como tradicionais, que tem conteúdo e agregam conhecimento, mas ainda há muito preconceito.

Muitos falam que a cultura popular é rica, mas ainda tem em mente a imagem de um trovador medieval louro, de olho azul, roupa bonita e viola. Ainda é um choque para elas, quando encaram um cantador de pés descalços, com metade da dentição, negro, camisa desbotada, dizendo palavras erradas. É provável que não se deem ao trabalho de ir a um espetáculo ver algo assim, pois nem sempre conseguem fazer a tradução daquele personagem. Talvez seja interessante ver no passista, no mito do folclore, no artesão ou no repentista, procedimento que podem até extrapolar os contextos isolados. Cabe perguntar se essas obras ligadas às tradições culturais remotas rurais e datadas trazem algum tipo de conhecimento, que pode trazer vitalidade à cultura de nossa época. Estar na presença deles é testemunhar uma memória que de alguma maneira se apagou, ficou escondida e a gente anda precisando do socorro delas, porque elas ainda trazem dentro deles, uma vitalidade, uma comunhão festiva com o mundo. Por isso tem se revelado mais rico entender o modo específico com um conjunto de procedimentos apropriados por diferentes ações culturais, do que isolar o que é popular num conjunto estanque de procedimentos.

O presente imediato de um criador de arte é o do tempo de realizar e apresentar sua obra ou seu espetáculo. Uma obra é a síntese de todo o percurso criativo que o artista faz até ali, mas não só. Retrata também a tradição cultural com que ele dialoga. Por isso pensar a tradição na cultura é mais do que preservar a memória de antigas tradições culturais. Recuperar uma tradição, pode ser também encarado como uma tentativa de superar uma forma ou testar um legado ao mesmo tempo morto, pois finalizado, acabado e vivo, aberto a a contínuas interpretações e modificado em cada obra ou ação cultural.

Sempre me pareceu que por traz da ideia de preservação da cultura popular, haveria antes um esforço contra a pasteurização e falta de diversidade dos produtos modificados.

A TV, por exemplo, tem a predileção popular pela oralidade migrar das manifestações culturais de rua, para uma relação mais indireta, mas predominantemente oral do vídeo.

Se urbanização, a escolarização e a massificação podem abafar as manifestações culturais regionais, difícil dizer. O Brasil é culturalmente mais rico e interessante do que os produtos massificados mostram e é saudável que as expressões culturais nos façam refletir a diversidade do temperamento do povo brasileira, mas a vitalidade popular ainda se revela capaz de criar o novo sem negar o antigo e sem aderir a ele incondicionalmente.


Ismail Xavier
Professor de cinema da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), é autor de livros referenciais, como Alegorias do Subdesenvolvimento (1993), onde analisa O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla.


A indústria transforma todo patrimônio cultural em objeto de consumo ao dar à mídia de massa o lugar central na vida atual, a sociedade não fica necessariamente transparente, consciente de si ou iluminada, mas complexa e caótica.

É nesse caos que podem estar muitas chances culturais, com mergulho nas tradições, tendo eco contra a homogeneização e a simplificação, onde em um produto massificado está impregnado o espírito do mito, da festa, que os espetáculos populares possuem. A chamada cultura de massa brasileira tem ingredientes da herança cultural europeia, mas necessita do popular. É fácil na crítica a isso tudo cair no UFANISMO ou então aderir à cultura industrial de forma pouco crítica. Somos desafiados a entender o lugar da tradição cultural na vida urbana de hoje.

As pontes entre a tradição e vida contemporânea repercutem em mais de um plano na cultura brasileira. Numa era de globalização, em que as culturas tendem ficar homogêneas, os gotos se nivelam e as pessoas assumem comportamentos muito parecidos em lugares muito diferentes entre si; a resposta por não ser um mero resgate das manifestações e rituais culturais tradicionais, a repetição do passado, seu congelamento e veneração fora do contexto.

Diante da fragmentação e da perda de referências, o desafio é diversificar a experiência cultural, é ter desejos de usufruir e ter acesso a um cardápio variado de experiências que incluam o consumo de massa, de elite e a cultura popular.

Preservar o folclore, a dança popular, o repente, pode dar um futuro a eles, negá-los ou usá-los como pontes para outra coisa. O desafio é deixa-los disponíveis à experiência cultural dos brasileiros, não simplesmente deixa-los de lado, relega-los ao esquecimento e a morte.

O desafio enfim, não é tornar cada brasileiro um comentarista da cultura, mas promover contatos culturais com obras que emocionem as pessoas, aumentar a experiência cultural delas, porque isso pode ampliar os seus horizontes, pode lhes dar mais liberdade de escolha e de ação.

Carlos Guilherme Mota

ENTREVISTA - PROGRAMA RODA VIVA

O historiador fala sobre sua nova coleção de obras em que questiona a ideia de que o Brasil teve uma trajetória de poucos conflitos e contradições

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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 03 - Vídeo-Aula: 05 – Carnavalizar a Cultura:
(Prof. Luiz Costa Pereira Júnior)

Celebração da alegria coletiva, folia organizada e desordeira, caricatura da seriedade dominante. Na palavra “Carnaval”, cabe mais de uma farra. É um tipo de festa, mas não só. É um tipo muito específico de alegria. E algo mais. Não é uma mera libertação de hábitos nem é exclusividade brasileira. O que é então?

Fazer um carnaval em torno de algo era sinônimo de promover estardalhaço, fantasiar os efeitos e as causas e fazer uma bagunça festiva. Carnavalizar é contagiar-se por um rompante de alegria, mas pular o carnaval é também participar de um acontecimento de mercado, uma farra com prazo de validade, desfiles e blocos se restringem a quarteto de dias anteriores à quarta-feira de cinzas. Essa briga de identidades entre um estado de espírito e uma festa de mercado contaminam o sentido que a cultura brasileira deu à ideia de carnaval ao longo do tempo.

A quem considere que a festa carnavalesca exista há milênios. Festas e procissões pagãs criaram tradições carnavalescas em muitos países. Os bispos dos primeiros séculos de domínio católico se incomodavam com essas festas. Foi da igreja que veio a primeira noção de Carnaval como uma festa de inversões, exageros, caricatura e humor.

No ano de 604 o papa Gregório I decretou que os fiéis deveriam abandonar sua rotina para num período predeterminado de 40 dias dedicarem-se à comunhão com o espírito. A quaresma era imitação do exemplo de Jesus, que durante 40 dias viveu entre o jejum e as tentações do satã. Em 1091 é que foi estabelecida a data oficial para a quaresma e a quarta feira de cinzas, esse dia recebeu tal nome pois havia o costume de fazer uma cruz com cinzas nas testas dos fiéis, esse dia também marca a abdicação dos prazeres.

O prenúncio do que chamamos hoje de carnaval, a rigor qualquer brincadeira ou inversão de valores pode ser considerado um antepassado do carnaval, foi assim que a festa chegou no Brasil.

Mais que uma festa, o carnaval é uma data, por isso não há uma forma de “brincar” o carnaval, há muitas. Os últimos dias de fartura antes da quaresma, começaram a ser chamado de “adeus a carne”. Se buscarmos entender a importância da carnavalização na nossa cultura, vale a pena pensar o carnaval como modo de reagir a realidade desigual, brutal e autoritária que vivenciou durante a história.

Fernando Penteado, diretor da harmonia da escola de samba Vai-Vai, nos explica que, quando os escravos chegaram no Brasil, chegaram também os instrumentos de percussão, começaram a fazer a manifestação do samba, eles faziam uma roda pra rezar a noite toda, para que no dia seguinte tivessem um bom dia, no meio da roda entrava-se o mais velho, ele cantava e rezava. Quando os negros iam ser comprados, os compradores destituíam a família, pois eles não queriam ninguém com o mesmo dialeto, porém eles não sabiam que os negros se comunicavam através dos tambores.

Talvez já tenha passado o tempo em que o samba era linguagem musical predominante, praticamente única na sociedade brasileira, hoje o samba não é o único gênero a representar o universo das camadas populares como foi nas décadas de 30 e 40, mas se alojou no imaginário popular aquilo que acreditamos ser a nossa identidade comum. Assim como o samba, o carnaval também foi alvo de uma mudança no jeito de o brasileiro encará-lo ao longo do tempo, até os anos 70 a popularidade tornou as escolas de samba um símbolo de identidade cultural do país, mas a partir da década seguinte a própria forma da representação cultural se modificou bastante.

Nas diferentes formas que o carnaval assumir: como conceito, estado de espírito, indústria (como as dos desfiles cariocas e os trios elétricos de salvador), ele sempre será sinônimo da realidade popular de se reinventar, se divertir até além do próximo carnaval. Mesmo a folia programada não abafa a realidade popular que a comemora misto de alegria e sofrimento, carnavaliza quem capta de forma festiva o cruzamento entre nobreza e miséria.


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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 03 - Vídeo-Aula: 06 – Uma Cultura de Fé:
(Prof. Luiz Costa Pereira Júnior)

Santo Antônio já foi vereador no Brasil. Por 60 anos ele ganhou salário, cadeira no plenário e apoio popular entre os colegas em Igarassu, na grande Recife. Não estou falando de lenda ou história do passado remoto. O santo só perdeu o cargo em 2008, em pleno século XXI. Difícil de acreditar, mas veja um trecho da reportagem de Geneton de Moraes Neto para o Fantástico da TV Globo, no terceiro domingo de abril de 2008.

“Diz a reportagem: que o Santo ganhou título de vereador perpétuo. O salário era recebido todo mês por uma freira. Uma imagem do Santo acompanha todas as sessões da Câmara. O título foi fixado por resolução da Câmara ao Santo Antônio de Pádua, como vereador perpétuo (art. 1º)”.

A Câmara de Igarassu seguiu uma resolução de 1951 que regularizava uma carta régia de D. José I (Rei de Portugal) de 1754. O salário do santo era dado à caridade, mas isto não sensibilizou o Ministério Público que retirou o cargo de vereador do santo pernambucano.

O grande lance é que este não é um caso isolado no país. Em 1705 o próprio Santo Antônio foi promovido a Capitão pelo Governador da Bahia. Nem sempre isso é tido como uma anormalidade, pois muitos brasileiros acreditam que a relação de intimidade com santos seria natural para a cultura brasileira.

Há inúmeras referências culturais nas religiões entre os muçulmanos ou em países de tradição católica, como Portugal, Polônia ou Espanha.

No Brasil temos nossas peculiaridades.

Sérgio Buarque de Holanda foi um dos maiores intérpretes do Brasil no século XX. É dele um estudo clássico sobre a cultura brasileira, chamado Raízes do Brasil, escrito em 1976. Nesse livro os cultos religiosos parecem assumir um caráter intimista, quase fraterno, que se acomoda mal nas cerimônias e suprime as distâncias. Cristo, Nossa Senhoria, os Santos, não aparecem como seres privilegiados, distantes e sem sentimento humano. Nosso velho catolicismo nos acostumou tratar os santos, com uma intimidade quase desrespeitosa. As pessoas querem estar em intimidade com as sagradas criaturas e o próprio Deus é um amigo familiar, doméstico e chegado, oposto ao Deus palaciano a Quem homenageamos de joelhos, como se fosse um senhor feudal. Somos marcados demais pela hierarquia e pela ordenação de cima para baixo e gostamos de pensar que na miúda, há sempre algum jeito de escapar de tudo que é muito rígido e inalcançável.

No Brasil prezamos a formalidade nas religiões, gostamos de ver a vela e o incenso queimarem, mas ao mesmo tempo o rigor do ritual, sempre se afrouxa e se humaniza. A vida brasileira nem é assim coesa, nem é assim disciplinada para que a gente ache obrigatório um ritual rigoroso, pois não é ele que compensará as amarguras sociais e nossas dúvidas. Nossa sensibilidade aprendeu a se movimentar com certa liberdade para absorver os mais diversos repertórios de ideias, gestos e formas que surjam pelo caminho, para nos ajudar a enfrentar os mistérios da existência. Vamos à missa de manhã e ao terreiro a noite, ajoelhamos no confessionário católico e esperamos passe no centro espírita. Tornamo-nos devotos de santos e cavalos dos orixás, devotamos crença em mais de uma religião ao mesmo tempo. Somos misturados, porque queremos um ele pessoal que ajude a domesticar a morte e o sofrimento e com isto, chegamos a Deus e aos espíritos, até mesmo nos ambientes onde o rigor é a regra.

No Brasil vale toda a mistura, todo sincretismo religioso, todo apego ao mesmo tempo agora a todas as proteções divinas para nossas atividades terrenas. Desde 2011 benzedeiras são reconhecidas pelo SUS como profissionais de saúde. Em 2011 morreu pai Santana, massagista que há mais de 40 anos o Vasco da Gama mantinha como funcionário com carteira assinada, encarregado de “trabalhos” contra os rivais. Anos antes, em 1997, o feiticeiro processou o clube Internacional por não lhe pagar os serviços prestados numa disputa contra o Grêmio. Aqui traficantes do morro carioca param suas atividades no Natal, em respeito ao nascimento de Cristo e um chefão do tráfico como Fernandinho Beira Mar faz na prisão uma faculdade de Teologia à distância. Até os nossos corruptos oram, como na oração da propina, como ficou conhecida em 2009, a bênção ao acerto da mesada para base aliada do Governo do Distrito Federal, o chamado mensalão do DEM. Nas imagens que ganharam o país, os deputados Rubens Cesar B. Júnior, Leonardo Prudente e Secretário Durval Barbosa, são vistos numa prece e agradecem as graças recebidas.

No Brasil não consideramos qualquer tipo de crendice uma mera superstição, mas um jeito de aumentar nossa chance de estar protegido. Então a relação que se mantem com as divindades se tornam quase sempre pessoal, passional, direta, motivada pela simpatia e pela lealdade, mesmo quando nossa religião tem um intermediário – um padre, um pastor, um pai de santo, um médium. Se a nossa relação com o divino é dessa natureza, assim tão pessoal, temos que saber chamar a atenção de nós mesmos, no mesmo ato em que chamamos a atenção da divindade. Talvez por isso Sérgio Buarque de Holanda desconfiasse que o país aprendesse a devoção com apetite por condimentos fortes, na expectativa de que antes de atingir a alma, há de atingir antes o olho e o ouvido. Isso teria estimulado uma religiosidade superficial, menos atenta ao teor da pregação, do que ao colorido e à forma com que a pregação é feita. Com apego ao concreto e uma pré-disposição para fazer um acordo, uma média com as entidades sagradas. Daí nosso apego ao concreto, pois uma reza nem sempre basta. Muitas vezes se intui que é necessário fazer a súplica, acompanhada de objetos e mimos, promessas e oferendas, que têm apelo muito mais dramático para sensibilizar o divino. Daí nossa linguagem religiosa seja marcada por gestos e movimentos de comunhão, que vão dos pulinhos de Iemanjá e de São Longuinho, ao envio de energia positiva e negativa com as mãos par ao campo de futebol, que vão dos dramas encenados para os índios desde a época dos Jesuítas, as missas movimentadas por grandes espetáculos, performances e canções na era eletrônica.

A religião tem sido considerada por muitos estudiosos, como um modo da pessoa entrar em sintonia com o universo, de compartilhar algo não só com Deus, mas com todas as pessoas, todos os seres, toda natureza. Isso tem um efeito muito atraente, de colocar tudo que existe debaixo do mesmo guarda-chuva, de igualar as diferenças, de dar sentido ao que ninguém explica; de dar conforto para os sofrimentos e às necessidades que sofremos ao longo da vida e de mostrar que faz sentido a forma como a sociedade está montada, com suas desigualdades e vantagens para uns, não para todos.

A grande contribuição brasileira seria a comunhão das religiosidades. O antropólogo Roberto da Mata, no livro “O que é o Brasil” diz que aqui diferentes experiências religiosas são complementares e não como em alguns povos como os europeus os norte-americanos, onde experiências diferentes de religião são mutuamente excludentes. Aqui o que uma dá em excesso, a outra economiza e nega. O que uma permite a outra proíbe. O que uma racionaliza, a outra traduz uma devoção malevolente, pois também na religião, tivemos a felicidade de contar com cultura de composição. Também na religião o brasileiro busca tudo o que o ajude a relacionar, tudo que dispense força exagerada e o que evita a tirania sobre nós mesmos, venha de onde vier, sem tanta exclusividade assim.

A cultura religiosa brasileira passa por uma mudança desde a virada para o século XXI. De um lado as religiões não são a única fonte capaz de conferir significado à existência do homem, como uma sociedade organizada, para ser cada vez mais laica e menos tutelada por diretrizes religiosas. Do outro lado o Brasil devoto viu diminuir a hegemonia católica, que por muito tempo foi intolerante com as demais religiões, apesar da ambiguidade religiosa brasileira. Novas formas de expressão de fé e misticismo começam a se firmar pelo país, com explosivo aumento do mercado de crenças. Vivemos uma proliferação de seitas, uma oferta fragmentada de cultos e igrejas explicitamente gerenciadas como empresas. Meios de comunicação de massa a serviço da devoção, novos tempos criados com sistemas de crenças fluidos e não muito claros, o suficiente para colocar esse mercado em expansão, em sintonia com o sistema de consumo atual, em que cada pessoa tem sua individualidade conhecida, por ser dada a ela a condição de escolher o tipo de religião de sua preferência. O catolicismo por século tornou inseparável a religião e as decisões da estrutura pública, a ponto de servir como instrumento de controle e da riqueza e do prestígio social. Longe da vida pública, da política e dos compromissos com as causas sociais, a igreja católica tem visto uma grande massa de fiéis buscando respostas em outras portas. Agora o panorama se inclina para uma privatização de fé e fragmentação do mercado das crenças. Com isso aumentam as demonstrações de intolerância mútua entre religiões rivais.


Apesar das mudanças na mentalidade religiosa brasileira, a linguagem da fé predominante no Brasil diz Roberto da Mata, ainda continua ser uma linguagem do relacionamento, que busca o meio termo, a possibilidade de salvar todo mundo e encontrar algo de bom e digno. Um idioma que permite a um povo que não possui muita coisa e não conseguem alcançar seus representantes legais, mas consegue falar, ser ouvido e receber os deuses na sua própria casa e até no próprio corpo. Somos um povo que leva mais a sério o outro mundo, do que um Deus autoritário e justiceiro, com mandamentos estagnados e excludentes. Muitos são os caminhos brasileiros para chegar ao outro mundo, porque o outro mundo brasileiro é o lugar onde as coisas fazem sentido e são justas e equilibradas, porque a vida não é.

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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 04 - Vídeo-Aula: 07 – Racismo à Brasileira:
(Prof. Luiz Costa Pereira Júnior)

O Brasileiro gosta de acreditar que não é racista, uma das crenças mais salientes da nossa cultura. A ideia de que somos uma combinatória de etnias tão grande, que nos tornamos praticamente uma etnia à parte. Uma combinatória de influências de todo canto. Uma mistura tão particular, que nos soa estranho como uma forma tão rígida de raça é usada em outras culturas para separar e humilhar as pessoas.

O racismo ainda está vivo no cotidiano brasileiro, muitas vezes mascarado. Essa aula procurada entender essa contradição fundamental entre ser e não ser racista, tudo ao mesmo tempo agora.

Vídeo – CQC – sobre jovens negros.

Pergunte para um brasileiro sobre racismo e sua resposta automática será negar. Ele faz isso com sinceridade, por acredita que o racismo ou não existe no país ou é brando.

As manifestações de preconceitos são consideradas atitudes de uma minoria, ou algum caso excepcional.

Vídeo – pesquisa sobre nível de preconceito – apenas 10% admite a existência. Algumas questões históricas.

O Brasil racista é o outro. O sociólogo Florestan Fernandes percebeu nos anos 60 que um traço nosso é camuflar a discriminação, jogando a culta em qualquer um que não a gente, sem nunca encarar o problema de frente.

Nossa sociedade teve uma história construída sobre a desigualdade, um modo de vida que um dia foi sustentado pela escravidão, pelas relações paternalistas e clientelistas que criam níveis de dependências nos mais desfavorecidos, maquiando a maneira com que são explorados.

A sociedade não admite o racismo, mas é no campo da vida privada, nos mecanismos da intimidade, no convívio mais privado que se movimenta o nosso preconceito.

Vídeo – CQC – sobre racismo/preconceito. (Entrevista com RAPPER)

Hoje a genética e a biologia nos informaram que raça não existe. Não é possível identificar na natureza, no corpo, no sangue do ser humano diferenças de tipo racial. Ela é antes uma classificação, uma ideia coletiva, mas raça ainda é um conceito forte. A um rótulo de raça todos acostumaram associar valores, crenças e conceitos usados para discriminar grupos sociais.

Vídeo – CQC – sobre racismo/preconceito. (Entrevista com DÉBORA ADÃO – Professora da Rede Pública)

Em 1954 o sociólogo brasileiro Oracy Nogueira fez uma distinção muito sugestiva. Ele afirmou que o nosso preconceito racial é de um tipo particular, diferente do de outras culturas. Aqui se cultua o preconceito de marca, que não seria a mesma coisa do que o preconceito de origem, ativamente realizado em países que costumamos usar como referência de racismo – os Estados Unidos e a África do Sul, em que a segregação chegou a ser uma política oficial. O que Oracy quis dizer é que no nosso racismo conta a aparência, a marca, o contexto e a posição social, não necessariamente a origem. A pessoa pode ser definir mais ou menos branca, tudo depende de quem pergunta e das condições sociais em que vivem ou se suas situações financeiras. Muitas vezes depende só do contexto. Um negro nomeado Capitão do Mato, passa a ser tratado como branco ou pelo menos como uma figura importante no universo do Senhor de Escravos. E volta a ser negro quando derrapa ou faz algo que não é esperado de alguém que ocupe uma posição senhorial.

Como aqui o intermediário ocupa um lugar forte na cultura, nosso racismo é contraditório e tudo depende das relações que são mantidas entre as pessoas.

Ganhou certa fama o relato do século XIX feito pelo botânico francês August de Saint´Hilaire que topou com um grupo de milicianos parados numa estrada de Minas Gerais e perguntou: Quem era o chefe deles? Um soldado apontou um Oficial e o francês perguntou – É aquele negro lá? E a resposta foi rápida – Não, ele não é negro, uma vez que ele é chefe.

Vídeo – CQC – sobre racismo/preconceito. (Porque uma pessoa negra vira um moreninho, um escurinho? Etc.)

Nos anos 30 do século XX a ideia de democracia racial trocou a noção de raça pela de cultura. A biologia parou de explicar o estado em que se encontrava a sociedade. O que ela explica é a trajetória em que essa sociedade construiu para si mesmo. A ideia de mistura racial deixou de ser considerada uma maldição, que nos levaria para o eterno atraso, em relação a outras civilizações, para ser tomadas como uma séria contribuição que o Brasil tinha a dar a outras nações. Aquelas que são marcadas pelo ódio étnico, pelas guerras fraticidas, pelas diferenças de raça e origem.

Por muito tempo nos orgulhamos do nosso celeiro de raças e de nossas harmonias, mas miscigenação não é sinônimo de igualdade. Com o tempo percebeu-se que a inclusão, era contaminada pela exclusão social. Somos excludentes e includentes ao mesmo tempo. As desvantagens no acesso ao trabalho, a bens, moradias, escolas, reproduzem a escala de nossas misturas.

No Brasil somos tolerantes com a desigualdade, mas somos flexíveis com relação as etnias. Em muitos países pessoas com pele claras, mas ascendências negras continuam sendo tratadas como negras. A origem por si só define o lugar que ela ocupará, pois lá pesa a descendência e não a aparência. Mesmo nos lugares em que a ideia de igualdade é considerada um valor a ser estimulado, como nos EUA, muitos classificam as pessoas por meio de hierarquias: negros hispânicos, asiáticos.

Enfrentamos um tipo de racismo no Brasil que parece silencioso. Preconceito não é admissível publicamente. Ele se esconde numa superfície de precária igualdade diante das leis. Há uma espécie de projeto oficial brasileiro que é antirracista e mostramos o melhor da nossa cultura, quando nos socializamos e nos identificamos nos padrões de mestiçagem, mas quando reafirmamos a diferença entre as pessoas, por meio de convenções que implicam sujeição e exclusão, simplesmente retomamos ódios antigos, segundo modelos que costurou a relação entre senhores e escravos.

Nós nos acostumamos com a ideia de que há áreas e que misturar pode, e miscigenação é um valor, é um bem e que a ideia de inclusão social é realmente tolerável, no campo da arte, música, futebol, da festa popular, mas em outras áreas valem antigas hierarquias. Predomina a noção de que a pessoa deve saber qual é o seu lugar. É o que ocorre no acesso ao trabalho e ao conhecimento, nas ocupações de mando e de autoridade e em algumas relações de convívio cotidiano.

Vídeo – CQC – sobre racismo/preconceito. (Entrevista Professor Douglas Belchior – ele fala – as balas perdidas sempre acertam um corpo negro. A morte negra não comove.) CONSTRUINDO OS ESTÁDIOS DA COPA – (NEGROS). APROVEITANDO OS ESPAÇOS DA COTA. (BRANCOS)

A herança de uma sociedade por tanto tempo escravagista, tão acentuadamente hierarquizada e descaradamente desigual, grita em nossas veias e é possível sentir suas cicatrizes no dia-a-dia. Talvez discriminar tenha assumido no Brasil uma forma tão particular, onipresente e natural, que a coisa precisa ser muito gritante para saltar aos olhos. Mas isso só acontece porque ainda vivemos numa sociedade em que posições sociais desfavoráveis são no fundo encaradas como uma realidade da vida, uma maldição que não se reverte.

O desafio da cultura brasileira e romper com essa nefasta de que o conformismo e o conservadorismo não têm relação com os nossos preconceitos.



Vídeo - YOUTUBE:

Semana CQC Racismo - 18 de Novembro 2013:





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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 04 - Vídeo-Aula: 08 – As Artes Plásticas no Brasil:
(Professora Camila Ploenner)

Nesta aula é falado sobre as artes plásticas do Brasil, é difícil explicar o que seria uma identidade das artes plásticas no país.

O crítico de artes Rodrigo Naves, em seu livro “A forma difícil” busca uma interpretação geral das nossas artes plásticas, embora concentre sua abordagem em alguns artistas na introdução dessa obra. Naves pondera que a produção artística nacional até 1970 foi esparsa e irregular, com exceção dos tempos do barroco mineiro do ícone Aleijadinho.  Essas características dificultam análises e teorias mais rigorosas.

Para o crítico existe algo mais criteriosa para a literatura, poesia, arquitetura, no Brasil, mas por diversos motivos não podemos dizer o mesmo das artes plásticas. Alguns motivos históricos para isso:

1.           A defasagem dos colonizadores nessas áreas.

2.           Preconceito por trabalhos manuais, potencializados pela escravidão.

Mas isso não explicaria tudo, para Rodrigo Naves, por exemplo, uma espécie de timidez formal das obras de artes plásticas brasileiras, seria uma das razões para ela ser levado menos em consideração do que outras produções.

José Ferraz de Almeida Júnior, foi um dos primeiros artistas plásticos a desenvolver uma forma específica para pintar o cotidiano tipicamente brasileiro.

Wikipédia: José Ferraz de Almeida Júnior, nascido em Itu, foi um pintor e desenhistas brasileiro da segunda metade do século XIX. É frequentemente aclamado pela historiografia como precursor da abordagem de temática regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo.

O quadro Caipira Picando Fumo, de 1893, talvez sua obra mais citado, é exemplo que além de retratar um homem do povo que vive na terra, Almeida Junior o retratava, concentrado, pensativo. 




No início do século XIX o pintor Jean-Baptiste Debret, foi o primeiro artista estrangeiro a tentar romper com uma forma pré-estabelecida para pintar o Brasil. Muitos de seus desenhos apresentam um tipo de mudança formal, uma dinâmica social da colônia.

Podemos dizer que se Debret tentou romper com essa forma, o paulista Almeida Junior, deu o passo seguinte no final do século XIX deu o passo seguinte ao olhar de mais perto e com menos preconceito seus personagens do que os artistas europeus.

O modernismo internacional no início no início do século XX, tem como características principais, uma aparência forte onde linha, cor e superfície ganham intensidade. Os elementos formas linhas e cores ganham autonomia e não ficam ocultas nas cenas e personagens.

Em “Urutu”, tela pintada por Tarsila do Amaral, em 1928, por exemplo, a cobra sai do ovo olhando para trás, ou seja, em direção à sua origem, as cores sutis dão forma a seres estranhos, únicos, que em um inconsciente coletivo seria um símbolo de uma origem bem específica de uma cultura brasileira.



A professora apresenta-nos também nessa aula, um pouco da história de Anita Malfatti, considerada a primeira representante do modernismo no Brasil.

“A maneira como ela percebia a arte veio “desarrumar” o que era aceito. Para ela, porém, não era somente o que era belo que existia. O feio fazia parte da realidade e era por ela retratado em sua arte. Era a expressão que se fazia presente porque era assim que Anita percebia a arte. Suas pinturas – modernas – tinham, portanto, motivos para causar desaprovação”.

Fonte: http://www.infoescola.com/literatura/anita-malfatti/

Fica a pergunta: A arte brasileira ainda convive com o que Rodrigo Naves chama de dificuldades de forma? Ao menos para o crítico, é isso que continua a caracterizar as melhores obras produzidas por aqui.

Até mesmo os neoconcretistas Hélio Oiticica e Lygia Clark considerados radicais por tentar levar a arte além da contemplação, imprimem essa interioridade em suas obras. Na visão de Naves tanto os núcleos de Oiticica, quanto os bichos de Lygia Clark são dotados de estímulos que remetem a si mesmos.

Semana de Arte Moderna:
Para comemorar os 80 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, a TV Cultura produziu em 2002 este programa que destaca os principais fatos, personagens, atos e efeitos do movimento Modernista.





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POLO ARAÇATUBA
ST2
Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 05 - Vídeo-Aula: 09 – O Consumo Cultural.
(Professor Luiz Costa Pereira Júnior)

Podemos compreender a cultura como fazemos com a antropologia, na tentativa de entender o ser humano quer participa de uma coletividade, ou seja, a cultura é tudo que uma comunidade faz: a maneira de sentir, amar, vestir, pensar, o seu jeito próprio.

Cultura também é tudo que acumulamos de conhecimento acerca das obras da criatividade humana. As criações das artes plásticas, teatro, filmes, literatura, músicas programas de TV, enfim, todas as criações que se destacam ou fazem sucesso.

Há um terceiro jeito de entender a cultura, a ideia importante que abre horizontes para as pessoas. É isso que vamos discutir nesta aula.

Entrevista com Renato Janine Ribeiro, Filósofo e professor da USP. “Cultura tem a ver com o domínio do conhecimento sobre artes, literatura (...). No sentido antropológico – conjunto de significações que uma comunidade atribui a atos, coisas, etc. (...)”.

Além dessas duas visões sobre a vida cultural, Renato lembra que podemos entender a cultura de um terceiro jeito, como a experiência que amplia os horizontes das pessoas, garantindo mais liberdade. Por exemplo: uma nova língua amplia o contato com o mundo, um poema chama atenção para aquilo que não se percebia artes plásticas ajudar a ver as coisas de uma maneira diferente, as narrativas num livro, filme, nos aproxima de experiências que nunca tivemos, faz namorar sem ter namorado, morrer sem ter morrido, etc.

Quando criamos e vivenciamos uma obra, se torna mais fácil superar as coisas, a cultura e a experiência amplia nossa possibilidade de escolha, aumentando nossa liberdade.


(Vídeo – Youtube)
Renato Janine Ribeiro – Roda de Conversa sobre Cultura
“O Conflito entre o primeiro e o segundo conceito de Cultura”.


O filósofo e professor da USP Renato Janine Ribeiro foi convidado pelo IDS para falar sobre A Cultura para a sociedade na Roda de Conversa realizada no dia 21 de novembro de 2013. Em sua fala, ele traçou um histórico da Cultura e falou sobre os diversos sentidos atribuídos a ela, que vão desde a sua produção erudita e mais elitista, ligada ao ócio dos nobres, até o seu sentido antropológico e de criação.


Nem sempre a obra cultural que abre os horizontes para gente é a de melhor qualidade, ou a mais famosa, mas aquela que nos sensibiliza. Ocorre que quanto mais obras culturais nós conhecemos, menos experiências novas culturais nós sentiremos, ficamos mais seletivos, com menos facilidade de sermos enganados por aquilo que é banal.

Experiência cultural pode ser forte ou fraca, sem tanta relação com a qualidade da obra (livro, música, etc.) e sim com a situação do sujeito que a vivencia. O problema é que quanto menos diversificada é a experiência que a gente tem e quanto mais igual é o tipo de consumo cultural que a gente faz, menos exigentes ficamos, menos escolhas seremos capazes de fazer, porque as escolhas já foram feitas. Nós as fizemos muito antes e reduzimos o leque de nossas possibilidades de preferência. Agimos como aquela criança que deseja sempre a mesma história. A nossa liberdade aumenta, no entanto, se aumentamos as possibilidades de escolhas.

Pessoa com pouca experiência cultural, com poucas escolhas, terá maior dificuldade de encontrar seus próprios caminhos.

Renato Janine diz que até um século atrás, a cultura era algo que se acumulada e nos diferenciava em termos de sofisticação e informação cultural. A pessoa culta era aquela que falava línguas, cursou faculdade, capaz de citar autores famosos, dominava o conhecimento sobre determinada arte e sabia discorrer sobre autores e artistas com propriedade. Cultura era tida com uma produção de artes, um acúmulo de conhecimentos, com o inconveniente de não se produzir alguma ideia genuína, como alguém que poupa, mas só sabe chegar ao máximo, até onde o criador já havia chegado. Esquece que cultura é compartilhamento e é criação.

O filósofo norte-americano Richard Rorty, considera que a importância de se ter contatos com muitos livros, muitos filmes, histórias de diferentes tipos é conscientizar-se de propostas alternativas. Isso pode torna-lo um “eu autônomo”. O progresso intelectual e moral ocorrem quando afirmações que parecem absurdas para uma geração, se tornam senso comum das gerações posteriores.

Richard Rorty

Vemos isso na sociedade brasileira, como a atitude no ato de fumar, por exemplo, que passou de positiva nas décadas passadas a negativas hoje em dia, diante de piadas clássicas e pejorativas sobre negros, mulheres e homossexuais, que agora começam soar incômodas. A experiência cultural é coletiva e ajuda fazer novas ideias rodarem a sociedade. Elas podem se forem experimentadas, resolver ou desfazer problemas criados pelas ideias antigas. Coisas que eram proibidas no passado se tornaram corriqueiras, por exemplo, com relação ao amor, ao trabalho e ao sexo, graças à experiência cultural mais intensa em sociedades como a do Brasil.

Essas mudanças tornaram obsoletos vários padrões antigos. Renato (filósofo) lembra que o mais importante não substituir um modelo por outro, mas que hoje não se sabe bem o que vai ser bom ou ruim, pois não substituindo padrões arcaicos, por um permitido, que se resolvem os conflitos. Um novo padrão imposto, apenas cria um novo constrangimento. Por isso não é importante trocar padrões, mas reduzir os papéis deles. A questão não é virar as coisas pelo avesso, mas mudar de patamar. Assim, as pessoas terão de criar novas formas de vida que valem para uns e não para todos.

Quando nos dedicamos criar, mais fácil achamos alternativas paras as situações adversas. Depositar nossas fichas num circulo virtuoso, para que a experiência plural aumente nossa liberdade. Ao fazemos escolhas mais livres aumentamos a experiência cultural de um país.

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Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
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Disciplina: Cultura Brasileira
Semana 05 - Vídeo-Aula: 10 – A Cultura Literária
(Professor Luiz Costa Pereira Júnior)

O Professor Luiz informa que houve uma época em que a literatura era o principal sonho cultural da elite brasileira. Antigamente forjava-se o gosto cultural do país, mantinha-se quase isolados os índices de leitura no Brasil. A literatura não tem mais o peso cultural que possuía à tempos atrás.

Nossa história é marcada por uma desigualdade social que fez do Brasil um país da oralidade, e mesmo nossa elite leitora é muitas vezes uma iniciante na cultura literária. Tal desvantagem é raiz de uma crise cada vez mais pronunciada, mas também é sua força.

Nunca se leu tanto no Brasil, com perspectivas tão animadoras para a leitura de obras literárias. Animamos quando brasileiros acima de 15 anos e com pelo menos 03 anos de escolaridade leiam quase 5 livros por ano, mas que não chegavam a dois livros no início do século XXI.

Uma boa parte do aumento de leitura no Brasil, diz respeito aos livros religiosos, de autoajuda, o brasileiro está mergulhado como nunca esteve na leitura.  O plano nacional do livro e da leitura tem investido em novas bibliotecas, tivemos também um aumento de feiras e bienais do livro. O orçamento federal do envio de obras literárias para as escolas públicas gira em torno de 80 milhões de reais. Em 2009, o governo zerou o número de municípios sem bibliotecas, embora algumas delas acabem fechadas, pois há prefeitos que não as achem importantes.

Apesar dessa mudança, no Brasil ainda há muito a ser feito, o país tem se mostrado uma sociedade de letrados sem leitura. Há quase 90 milhões de pessoas letradas no Brasil e uma parcela delas, 14 milhões, não leem nada, alfabetizados sem leitura, maiores de 15 anos. Esse grupo é parte da elite cultural brasileira.

Um terço da classe A (elite) admite ter total falta de prazer com o ato de ler, uma a cada quatro pessoas da classe A e B diz não ler por ter preguiça. O IBOPE mostrou que 62% das pessoas com o ensino médio completo não estão totalmente alfabetizados. A expectativa era que aos 18 anos, tendo frequentado a escola, todos soubessem ler e entender textos longos, mas só 38% fazem isso.

O PISA é a sigla do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos, que avalia os estudantes de 57 países. O Brasil está no grupo de países que tem mais da metade dos estudantes com dificuldades para usar a leitura como ferramenta para obter conhecimentos em outras áreas. Isso significa que a média dos estudantes do país sabe apenas localizar informações ou reconhecer o tema de um determinado texto.

Esse problema se reflete no mercado de trabalho, a cada 100 brasileiros de 15 a 19 anos, 72 não estão aptos a conseguir uma boa colocação profissional. Pra chegar a conclusão os autores do estudo consideraram o nível de leitura desse grupo.

Exigência cada vez maior para atuação dos brasileiros é saber analisar um tema, enumerar argumentos e desenvolver ideias, são qualidades conseguidas com mais facilidade se criado o hábito de leitura de obras literárias. A literatura é uma forma de diminuir a nossa defasagem, tomar contato com o universo literário leva um prazer específico. A imaginação literária não está descolada da vida, mas isso não é claro para os leitores em formação e até para alguns já formados.

A importância de se ler muitos livros é tomar consciência de relatos, experiências, situações, relações para que se possa aprimorar um eu autônomo em relação ao mundo. Podemos entender melhor a cultura, a nós mesmos e a nossa própria vida na literatura.

A literatura flagra a experiência humana de uma maneira que só ela é capaz de oferecer.

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